Páginas

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Ferve no mar negro a nova guerra fria


Geórgia vs Russia: Ferve no Mar Negro a nova guerra fria;
Ocidente contra eixo sino-russo

Vasos da guerra da OTAN rondam a Geórgia. Um navio atracou em Poti, com ajuda humanitária. Caro transporte de água mineral, ironiza o Kremlin, que busca o apoio de Pequim. No Tadjiquistão, Medvedev e Hu falaram de tudo.Guerra Fria passou a ser, embora já o fosse há muito tempo, o temido revivalismo surgido no âmbito da crise na Geórgia. Ao reconhecer a independência das regiões separatistas (e pró-Moscovo) da Abkházia e da Ossétia do Sul, os russos não escolheram propriamente a confrontação ou isolamento, antes deram seguimento a um jogo que tem sido muito movimentado, ao longo dos anos, do outro lado do tabuleiro, em especial com as estratégias de alargamento ou de reenquadramento da Aliança Atlântica. Antes do encontro entre os presidentes russo e chinês, ocorrido em Duchambé, a agência Nova China veiculara uma nota governamental, dando conta da "preocupação com os recentes desenvolvimentos na Ossétia do Sul e na Abkházia". Dmitri Medvedev, que tem reservada para a China a primeira grande visita oficial da sua presidência, encontrou Hu Jintao à margem de uma cimeira dos países da Organização de Cooperação de Xangai (China, Rússia e antigas repúblicas soviéticas da Ásia central). Tal como o antecessor, Vladimir Putin, o número um do Kremlin sonha com a criação de um eixo Moscovo-Pequim, como novo contraponto ao Ocidente liderado pelos Estados Unidos, mas a China remete-se ao silêncio e não está disposta a tomar posições precipitadas, até porque atravessa um processo de crescimento em que a ligação ao Ocidente é essencial.O Ocidente continuou a pressionar a Rússia, designadamente através do ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, que aproveitou uma visita à Ucrânia (uma outra pedra no sapato de Moscovo, devido às aproximações à OTAN) para instar Moscovo a "não dar início" a uma nova guerra fria. A resposta pronta foi dada pelo porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov: "A Rússia era e continuará a ser o último país do Mundo interessado numa repetição da guerra fria".No fundo, vai-se assistindo a um vaivém de declarações mais ou menos sonantes, em que cada um dos lados em oposição responsabiliza o outro pela crise. Claro que essas coisas não se processam assim, e se a intervenção militar de Moscovo, a gota de água, pode ser entendida como a acção que desencadeou este clima, é absolutamente claro que o Ocidente tem pisando alguns calos de Moscovo, seja pelo alargamento da OTAN (e também da União Europeia, um fenómeno de certo modo paralelo), seja pelo sistema americano de defesa antimísseis, seja pela situação no Kosovo...A ruptura entre a Rússia e a Geórgia, que deverá passar em breve com o fecho de representações diplomáticas, é, claramente, um detalhe no meio de um processo demasiado complexo e instável. A Ucrânia, cuja facção maioritária está ansiosa pela integração na OTAN (uma forma de sair de baixo do peso opressivo do gigante a oriente), é apontada por Nicolas Sarkozy, que preside à União Europeia, como um dos objectivos territoriais que se seguem à Ossétia do Sul e à Abkházia. O presidente ucraniano, Viktor Iuschenko, fala em "ameaça à paz na região e na Europa".Em Poti, dizem os americanos, o navio "Dallas" descarregou água e alimentos. Mísseis, dizem alguns russos.








Moscou: Putin acusa EUA de interferirem na Geórgia para favorecer McCain

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, acusou os Estados Unidos de terem interferido no conflito com a Geórgia, com norte-americanos "na zona do conflito durante as hostilidades", acusação que já foi rejeitada por Washington."Sugerir que os Estados Unidos orquestraram isso por conta de um candidato político não parece racional", declarou a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino. Vladimir Putin fez as acusações numa entrevista à cadeia de televisão norte-americana CNN, da qual só foram divulgados excertos no site da estação, indicando que as suas fontes são responsáveis da Defesa russa."Se bem compreendi, isso sugere que alguém nos Estados Unidos criou um conflito para piorar a situação e criar assim uma vantagem em favor de um dos candidatos na renhida corrida ao cargo de presidente dos Estados Unidos", declarou Putin, num excerto da entrevista transmitido pela televisão russa.Segundo o 'site' Internet da CNN, Putin explicou que o objectivo seria desviar a atenção dos eleitores dos conflitos no Iraque e no Afeganistão e das suas preocupações em relação à situação económica dos Estados Unidos, o que beneficiaria o candidato republicano, John McCain."Essas acusações são evidentemente falsas, de uma vez por todas. Mas também parece que esses responsáveis da Defesa (russa) que disseram acreditar ser verdade lhe dão muito maus conselhos", acrescentou a porta-voz norte-americana.Segundo a CNN, o primeiro-ministro russo afirmou igualmente que, no terreno, foram dadas ordens pelos norte-americanos."O facto é que cidadãos norte-americanos estiveram realmente na zona do conflito durante as hostilidades. Devia admitir-se que eles estiveram lá por terem recebido ordens dos seus superiores", disse Putin na entrevista, que vai ser difundida mais tarde, da qual alguns excertos já foram colocados no 'site' da CNN."Consequentemente, eles agiram executando essas ordens, agiram sob ordens e o único que pode dar essas ordens é o seu dirigente" acrescentou.Segundo a agência russa Itar-Tass, Vladimir Putin responsabilizou também os Estados Unidos por "não deterem" o presidente da Geórgia, Mikhail Saakaschvili, quando este decidiu atacar a Ossétia do Sul, operação que desencadeou a resposta militar russa."Para quê realizar durante anos difíceis negociações e procurar soluções de compromisso para os conflitos étnicos? É mais fácil armar uma das partes e levá-la a matar a outra parte", disse o primeiro-ministro russo, citado pela mesma agência.Depois de derrotar a Geórgia na Ossétia do Sul, a Rússia reconheceu terça-feira a independência das regiões separatistas georgianas da Abkházia e da Ossétia do Sul.A este episódio juntaram-se hoje outras declarações que contribuem ainda mais para a escalada política entre Washington e Moscovo desencadeada pelo conflito na Ossétia do Sul.A mesma porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse hoje à imprensa que os Estados Unidos estão a considerar a possibilidade de anular o pacto de cooperação nuclear civil com a Rússia."Penso que ainda não há nada a anunciar, mas sei que há conversações" sobre esse assunto, respondeu a porta-voz a uma pergunta sobre a possibilidade de os Estados Unidos deixarem cair o acordo assinado em Maio entre a Rússia e os Estados Unidos.O acordo em causa destina-se a permitir a ambos os países desenvolverem relações comerciais no sector do nuclear civil sem prejudicar a luta contra a proliferação nuclear.A Casa Branca anunciou, por outro lado, que o presidente George W. Bush vai desbloquear 5,75 milhões de dólares (cerca de 3,91 milhões de dólares) de ajuda à Geórgia.Num memorando enviado à secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, Bush indica que esta ajuda visa responder "às necessidades humanitárias das vítimas do conflito e daqueles que foram deslocados pela violência recente na Geórgia".O memorando explicita que a verba será retirada do Fundo de Urgência dos Estados Unidos para Assistência a Refugiados.JN

Sem comentários:

Enviar um comentário